sexta-feira, 19 de março de 2010



A POÉTICA E O ESTILO DE CRUZ E SOUSA E ALPHONSUS DE GUIMARAENS

CRUZ E SOUSA
O poeta João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro(atual Florianópolis)no dia 24 de novembro de 1861 ,filho de negros alforriados, desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o Marechal Guilherme Xavier de Sousa - de quem adotou o nome de família. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais. Seus poemas são marcados pela musicalidade (uso constante de aliterações), pelo individualismo, pelo sensualismo, às vezes pelo desespero, às vezes pelo apaziguamento, além de uma obsessão pela cor branca. É certo que encontram-se inúmeras referências à cor branca, assim como à transparência, à translucidez, à nebulosidade e aos brilhos, e a muitas outras cores, todas sempre presentes em seus versos.No aspecto de influências do simbolismo, nota-se uma amálgama que conflui águas do satanismo de Baudelaire ao espiritualismo ligados tanto a tendências estéticas vigentes como a fases na vida do autor.Quando Cruz e Souza diz "brancura", é preciso recorrer aos mais altos significados desta palavra, muito além da cor em si.

Seus versos tinham musicalidade e sutileza para a atmosfera religiosa que inspiravam como mostra a passagem a seguir:

"Tu que és a lua da Mansão de rosa

da Graça e do supremo Encantamento,

o círio astral do augusto Pensamento

velando eternamente a Fé chorosa;"
(Cruz e Sousa)

Também havia a busca da purificação com o espírito atingindo regiões etéreas e integração com o espaço infinito (cosmos) como nos versos a seguir:

"A voz do céu pode vibrar sonora

Ou do inferno a sinistra sinfonia,

Que num fundo de astral melancolia

Minh'alma com a tu'alma goza e chora;"
(Cruz e Souza)

ALPHONSUS DE GUIMARAENS
Afonso Henrique da Costa Guimarães, nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, em 24 de julho de 1870 e morreu, em Mariana, a 15 de julho de 1921.
Ouro Preto foi o cenário dos primeiros anos da vida do Poeta que desde sua infância dava sinais de extrema sensibilidade e acentuada introversão. Considerado um dos grandes nomes do Simbolismo, e por vezes o mais místico dos poetas brasileiros, Alphonsus de Guimaraens tratou em seus versos de amor, morte e religiosidade. A morte de sua noiva Constança, em 1888, marcou profundamente sua vida e sua obra, cujos versos, melancólicos e musicais, são repletos de anjos, serafins, cores roxas e virgens mortas. Seus sonetos apresentam uma estrutura clássica, e são profundamente religiosos e sensíveis na medida em que ele explora o sentido da morte, do amor impossível, da solidão e da inaptação ao mundo.

Contudo, o tom místico imprime em sua obra um sentimento de aceitação e resignação diante da própria vida, dos sofrimentos e dores. Outra característica marcante de sua obra é a utilização da espiritualidade em relação à figura feminina que é considerada um anjo, ou um ser celestial, por isso, Alphonsus de Guimaraens é neo-romântico e simbolista ao mesmo tempo, já que essas duas escolas possuem características semelhantes. Oscila, assim, entre os indícios materiais da morte e a expectativa do sobrenatural, como se toda a sua poesia se fizesse em variações de um mesmo réquiem. Mas a evolução da linguagem é permanente e a tendência a um barroco discreto -- de Ouro Preto, Mariana se flexibiliza, se inova com acentos verlainianos, mallarmaicos, de que brotam imagens muitas vezes ousadas, não longe da invenção surrealista.

Sua obra, predominantemente poética, consagrou-o como um dos principais autores simbolistas do Brasil. Em referência à cidade em que passou parte de sua vida, é também chamado de "o solitário de Mariana", a sua "torre de marfim do Simbolismo".

Sua poesia é quase toda voltada para o tema da Morte da Mulher amada. Embora preferisse o verso decassílabo, chegou a explorar outras métricas.Como o dístico observadona estrofe do poema Árias e Canções:

"A suave castelã das horas mortas

Assoma à torre do castelo, As portas,"

Outra tematica observada em suas poesias é a morte como forma de evasão e de fuga do plano terreno, o amor é abordado de forma platonica e idealizante, pois nao ha lugar para o sensualismo e erotismo. A figura femininaaparece de forma divinizada, distante, fria e morta. Como na estrofe a seguir:

"Hirta e branca... Repousa a sua aurea cabeça

Numa almofada de cetim bordada em lirios.

Ei- la morta afinal como quem adormeça

Aqui para sofrer Além novos martirios."
(Alphonsus de Guimaraens)

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